quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Jaques Wagner e Paulo Souto falam da Educação na Bahia

Fonte: Equipe do Educar para Crescer
Candidatos ao governo da Bahia falam sobre as principais questões ligadas à Educação.

São muitos os desafios relacionados à Educação na Bahia, na visão dos principais* candidatos ao governo do Estado: alto índice de analfabetismo, escolas com os piores desempenhos nacionais no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), uma urgente melhora na capacitação dos docentes.
Enquanto o candidato à reeleição, Jaques Wagner, se orgulha dos resultados obtidos em seu governo com o programa TOPA (Todos pela Educação) e contabiliza a alfabetização de mais de 460 mil jovens e adultos, seu adversário, Paulo Souto, cobra mais qualidade. “Não podemos nos contentar com resultados deficientes que se limitem, por exemplo, a uma assinatura.”
Souto, 67 anos, já comandou o Estado por duas vezes, entre 1995 e 1998 e 2002 e 2006. Em seu último mandato, diz ter implantado uma forma de ascensão profissional para professores por meio de uma avaliação realizada a cada três anos. Porém admite que essa saída não se relaciona com a efetiva melhoria do desempenho dos alunos e precisaria ser complementada, talvez via concessão de bônus para os aqueles que se destacarem.
Aos 59 anos e à frente do Estado pela primeira vez após perder a eleição de 2002 para o mesmo Paulo Souto com quem disputa agora, Wagner considera “cedo” sua eventual saída do governo. “Estamos apenas começando. Porque tivemos apenas quatro anos e porque substituímos uma visão de governo totalmente antagônica à nossa”, afirma. Ele aposta no ensino profissionalizante como ponte efetiva entre o Ensino Médio e o mercado de trabalho. “Em 2007, eram apenas 4 mil matriculados e agora estamos com 40 mil inscritos no Ensino Médio profissionalizante. Nossa meta para 2014 é de 84 mil.”
Acompanhe estas e outras opiniões dos dois candidatos nas entrevistas individuais realizadas com perguntas formuladas pelos conselheiros do Educar para Crescer. Os entrevistados não tiveram acesso antecipado às questões.
*Pesquisa IBOPE realizada entre os dias 03 e 05 de agosto de 2010. Jaques Wagner (PT): 46%; Paulo Souto (DEM): 19%; Geddel Vieira Lima (PMDB): 11%. Demais candidatos: 1% ou menos. Indecisos: 14%; Branco e Nulo: 9%.
No Brasil ainda temos aproximadamente 15 milhões de mulheres e homens acima dos quinze anos de idade que não conseguem, por serem analfabetos, ler o lema da própria bandeira nacional: Ordem e Progresso. Na sua eventual atuação como governante, que ação fará para não consolidar essa injusta e vergonhosa ironia cívica?
Pergunta elaborada por: Mario Sergio Cortella, filósofo, ex-secretário municipal de Educação de São Paulo, doutor em Educação, professor da PUC-SP
Jaques Wagner – Tenho orgulho de poder responder a essa pergunta com um trabalho grande realizado, que foi o TOPA (Todos pela Alfabetização), o maior programa de alfabetização em curso no país. Ao todo, já temos 460 mil pessoas alfabetizadas por meio de cursos que não se restringem apenas ao clássico ler e assinar o nome, e sim a oito meses de aulas. Se todos os outros 500 mil alunos conseguirem se formar, vamos completar esses quatro anos com praticamente um milhão de alfabetizados acima de 15 anos.
Recebemos o Estado com 2,15 milhões de analfabetos acima de 15 anos de idade. E já conseguimos esse grande avanço. Um programa derivado do TOPA é o “Leitura para Todos”, com o envio de 30 mil livros pelo correio que servirão como a primeira leitura para os alunos. Ainda temos muito por fazer, mas a ideia é de que até o final desse programa sejam 300 mil livros enviados. É um crime termos tanta gente analfabeta nessa altura do desenvolvimento da sociedade. Vamos continuar com esse esforço e poderemos, se reeleito, em 2014, não diria zerar, mas chegar a limites aceitáveis de analfabetismo acima de 15 anos.
Paulo Souto – Tradicionalmente, no Brasil, são feitos muitos programas de alfabetização de jovens e adultos. Porém, a maioria desses programas – que às vezes são anunciados com números estratosféricos – tem tido uma preocupação apenas quantitativa e não qualitativa com o problema, com poucos resultados objetivos e práticos. A minha ideia é realizar programas de forma mais estruturada, para resultados efetivamente palpáveis. Não podemos nos contentar com resultados deficientes que se limitem, por exemplo, a uma assinatura.
O bom administrador sabe que a criação de indicadores, definição de metas e acompanhamento das mesmas são condições básicas para uma administração aceitável. Há alguns anos foi criado um indicador nacional para a educação que é o IDEB, bem como metas para seu acompanhamento. Mesmo assim, quase nenhum governante se compromete objetivamente com tais metas ou, o que seria melhor, estabelece suas próprias metas de forma mais agressiva. Dito isto, gostaria de saber: o senhor sabe qual é o IDEB do seu estado? Sabe quais são as metas do IDEB para o seu mandato?
Pergunta elaborada por: David Saad, executivo de Relações Institucionais Sociedade Beneficente Israelita Brasileira
Jaques Wagner – O nosso Ideb de 1ª a 4ª série é 3,8, o de 5ª a 8ª, 3,1; e o do Ensino Médio é 3,3. De 1ª a 4ª, atingimos a meta prevista para 2013. De 5ª a 8ª, chegamos na meta de 2009. No Ensino Médio, já chegamos na meta de 2011. Nossa ideia é continuar ultrapassando as metas estabelecidas do Ideb pelo MEC.
Paulo Souto – Apesar de o Ideb do Estado ter sido algo em torno de 3,3, sete das piores médias do país foram na Bahia. O município de Apuarema, no sul do Estado, teve a pior avaliação, com a nota 0,5. A Bahia ainda tem cinco outros municípios na lista das dez cidades com piores médias e nenhum município na listas das dez melhores notas. Primeiramente, temos que alcançar as metas previstas dentro do programa traçado pelo Ministério da Educação. O ideal seria igualar para, posteriormente, ultrapassar esses patamares nacionais previstos.
O senhor se compromete com essas metas ou com metas mais agressivas para o Ideb? Quais são as ações objetivas que o senhor, hoje, pode dar certeza absoluta que fará, caso eleito, para atingir essas metas?
Pergunta elaborada por: David Saad, executivo de Relações Institucionais Sociedade Beneficente Israelita Brasileira
Jaques Wagner – Sim. Apesar de já termos ultrapassamos as metas de 2011 e 2013, nossa ideia é continuar ultrapassando as metas estabelecidas. A ideia para o segundo mandato é um mergulho mais profundo nas parcerias com as prefeituras da 1ª a 4ª série, de tal forma que possamos garantir um nível aceitável pelo menos nas oito primeiras séries. Temos tido uma melhora, tanto no Ideb quanto do Enem, e meu compromisso é de continuar com esse esforço, contratando professores, melhorando os orçamentos do terceiro grau e as estruturas físicas das escolas.
Em 2007, a Bahia ainda era o Estado com maior número de professores que não cumpriam a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, por não terem o terceiro grau. Hoje são 25 mil das redes estadual e municipal que foram beneficiados com vagas para cumprir a determinação.
Paulo Souto – O esforço principal é tentar ultrapassar as metas previstas para o Estado, fazendo um esforço especial naqueles municípios que hoje são responsáveis pela redução da média estadual. Temos também que fazer um esforço nas áreas que não são de responsabilidade direta do Estado, como no caso do Ensino Fundamental. A primeira coisa é um programa em conjunto com esses municípios (de pior desempenho no IDEB), principalmente do ponto de vista da melhoria da qualidade do ensino ofertado. É importante identificar quais são as maiores restrições para atingir as metas e fazer programas de capacitação e formação de professores. No caso do Ensino Médio, a ideia é de avançar o máximo possível no número de escolas de ensino em tempo integral. Outro aspecto importante seria fazer avaliações anuais no início e no final do ano letivo das escolas, estabelecendo metas e premiando os desempenhos ao conjunto de professores e funcionários. O Estado já aplica entre 28% e 30% da sua Receita na Educação. Algumas das medidas fundamentais para a melhoria da qualidade de ensino vão precisar da participação mais forte do governo federal no apoio ao ensino básico.
Considerando que o professor é peça chave para a melhoria da qualidade do ensino, como o candidato pretende articular a formação dos professores com a prática da sala de aula, para que haja um efetivo impacto na qualidade?
Pergunta elaborada por: Maria Alice Setúbal, socióloga, diretora-presidente do Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária), integrante do Conselho de Administração da Fundação Abrinq e do Conselho do Programa Comunidade Solidária
Jaques Wagner – Primeiro com a formação em terceiro grau daqueles que estão ministrando aulas, além do apoio pedagógico que já damos com o material didático. A qualificação dos professores passa pela reciclagem, pela realização de novos concursos e pela valorização salarial da categoria. Destaco também a importância da avaliação dos profissionais e de um plano de carreira bem definido.
Paulo Souto – Essa é basicamente uma função das faculdades de formação dos professores. E há um reconhecimento de que essa formação não atende às necessidades plenas, sendo, definitivamente, uma dos motivos pelos quais a qualidade do ensino não é aquela que todos desejamos. O Estado poderia realizar um esforço dentro das universidades estaduais que garanta uma formação mais completa.
Há quem defenda a implantação da política de bônus como forma de reconhecer o mérito do professor. O senhor acredita que esta seja a melhor política para reconhecimento de mérito docente? Se não, qual seria o caminho?
Pergunta elaborada por: Mozart Neves Ramos, presidente-executivo do Todos Pela Educação
Jaques Wagner – Tudo que for estimulo é positivo. Sou a favor da meritocracia. Pode ser representada por prêmios em dinheiro, prêmios em ascensão profissional, melhoria na carreira, ser concedida depois de x anos de bons desempenhos, o direito de fazer um mestrado ou uma pós-graduação etc. Sou a favor dos benefícios com a cobrança de metas estabelecidas e uma planilha muito clara de contrapartidas.
Paulo Souto - Implantamos, no governo passado, um processo de qualificação de professores no qual eles poderiam obter ascensão profissional mediante uma apresentação avaliatória realizada a cada três anos e conduzida pelas secretarias de educação. Eu reconheço, entretanto, que essa medida não está ligada necessariamente ao problema principal, que é obter o melhor desempenho dos alunos. Uma boa política de bônus precisa levar em consideração a efetiva melhoria do desempenho dos alunos.
As avaliações nacionais mostram que um dos maiores desafios da Educação brasileira sob a responsabilidade dos Estados é o Ensino Médio, que apresenta indicadores ruins tanto de desempenho dos alunos como de cobertura. Cerca de 20% dos jovens brasileiros entre 15 e 17 anos estão fora da escola. Entre os que conseguem concluir o Ensino Médio, apenas 9% desenvolvem as competências e habilidades esperadas ao final da educação básica. O que o senhor fará no seu Estado para melhorar o Ensino Médio?
Pergunta elaborada por: Maria Helena Guimarães de Castro, ex-presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) e ex-secretária da Educação de São Paulo
Jaques Wagner – A melhoria do Ensino Médio passa pela qualificação dos professores e pela intensificação de alguns cursos a distância, pelo grande espalhamento da população. Não vamos vencer essa batalha utilizando somente a sala de aula clássica. Temos o Instituto Anísio Teixeira com uma central de teleconferência para gerar conteúdo e interagir com diversas salas espalhadas pelo Estado. A ideia é aumentar o número de salas participantes. Temos a consciência de que é preciso um trabalho intenso para melhorar o padrão intelectual dos alunos e professores. Estamos com um projeto em andamento chamado “Centros Juvenis de Ciência e Cultura” que envolve universidades e utiliza espaços ociosos da rede para oferecer conteúdos temáticos atuais aos alunos, para que a juventude os discuta com qualidade.
Paulo Souto – Um aspecto importante para a melhoria do Ensino Médio seria conseguir que professores e alunos atuem em maior sintonia. Do lado dos professores, é importante estabelecer um currículo detalhado de todos os assuntos que devam ser abordados em determinado curso. Isso, ao mesmo tempo em que cria uma nítida obrigação para os professores, permite que os alunos possam acompanhar o andamento do currículo. É importante ter cadernos para professores e para alunos estabelecendo claramente os assuntos que devem ser abordados em cada uma das etapas do Ensino Médio. Outra questão é a abordagem desse currículo com assuntos que sejam mais atrativos para os jovens, inclusive com o início da profissionalização, para que os alunos possam, ao concluir o nível médio, entrar no mercado de trabalho.
Quais os planos para garantir a ponte entre a escola e o mercado de trabalho?
Pergunta elaborada por: Wanda Engel, superintendent-executiva do Instituto Unibanco
Jaques Wagner – Fizemos um esforço muito grande no ensino profissionalizante. Em 2007, eram apenas 4 mil matriculados e agora estamos com 40 mil inscritos no Ensino Médio profissionalizante. Nossa meta para 2014 é de 84 mil. Além dessas vagas de cursos de três a quatro anos, temos ofertado cursos de três a seis meses em parceria com empresas, tentando colocar os jovens mercado de trabalho.
Paulo Souto – O ponto principal é ter no currículo disciplinas que permitam a profissionalização do aluno. É fundamental que o Estado dê a ele capacidade para se lançar com qualidade no mercado de trabalho. Temos de acoplar a oferta de ensino profissionalizante para jovens com a concessão de incentivos fiscais às empresas que lhes deem emprego e de estímulo financeiro, sob a forma de poupança, aos próprios jovens, pela conclusão de sua formação profissional e da etapa correspondente da Educação de jovens e adultos.
Como equalizar o currículo do Ensino Médio atendendo à necessidade tanto do jovem que quer entrar na universidade quanto do que quer ir para o mercado de trabalho?
Pergunta elaborada por: Wanda Engel, superintendente-executiva do Instituto Unibanco
Jaques Wagner – A Secretaria de Educação baixou uma portaria que obriga as escolas a seguir a base nacional comum, fixada pelo Conselho Nacional de Educação. Com isso, estamos estabilizando a rede de Educação. Deve haver uma conexão entre o conteúdo curricular e a capacitação para enfrentar o mercado de trabalho e é fundamental que o Estado dê aos jovens essa capacidade.
Paulo Souto – A Bahia possui milhares de jovens que não concluíram o ciclo da educação básica e não possuem formação profissional. É necessário permitir que realmente o Ensino Médio possa iniciar o jovem de alguma forma na área de profissionalização e qualificação, para que ele possa se lançar no mercado de trabalho.
Como pensa em estimular a atratividade da carreira docente junto aos jovens concluintes do Ensino Médio?
Pergunta elaborada por: Ângela Dannemann, diretora da Fundação Victor Civita
Jaques Wagner – Um dos estímulos seria a valorização e o reconhecimento por parte da sociedade aliada a uma remuneração, sempre que possível, mais justa e digna por parte do governo. Outro ponto é ter um plano de carreira claro para que os jovens saibam quais são os processos de ascensão. O próprio processo de democratização nas escolas, com conferências, festivais estudantis e programas que interajam diretamente com a escola, é de fundamental importância nesse processo.
Paulo Souto – Uma das propostas é fazer uma sinalização clara da carreira de professor com indicações muito objetivas e que incluam um plano de carreira e a possibilidade de ascensão profissional, inclusive do ponto de vista da remuneração. Essa ascensão deve ser claramente relacionada a méritos e desempenho dos professores. Isso pode valorizar a carreira e, portanto, aumentar a atratividade dessa profissão entre os jovens.
O que o senhor pensa sobre dar maior autonomia administrativo-financeira para diretores de escola, com a participação da comunidade de pais de alunos como controle?
Pergunta elaborada por: Ângela Dannemann, diretora da Fundação Victor Civita
Jaques Wagner – Acredito que toda liberdade deva corresponder a uma responsabilidade. Eu não tenho nenhum problema em dar autonomia administrativo-financeira para diretores de escola, com a participação da comunidade de pais de alunos. Mas tenho a responsabilidade perante os 3,3 milhões que me elegeram em 2006, e não posso abrir mão dela, no mínimo, na condição de supervisão. Quero que cada vez mais a sociedade se sinta dona da comunidade, mas temos que ter um sistema bem montado de supervisão e que cobre metas, resultados e qualifique as direções.
Paulo Souto – Isso já tem sido feito com a transferência de recursos para as escolas. É muito importante, cada vez mais, aumentar o controle social com a participação da comunidade de pais, controlando essa atuação. A grande chave é encontrar formas para que essas comunidades participem, já que infelizmente muitos desses conselhos não têm conseguido atrair uma participação mais intensa das famílias. Um avanço na autonomia das escolas aliado ao aumento dos controles sociais pode produzir resultados melhores.
O que o senhor fará para melhorar a formação de diretores? Pensa na criação de cursos universitários para formação de diretores de escola?
Pergunta elaborada por: Gustavo Ioschpe, economista da G7 Investimentos, especialista em Educação
Jaques Wagner – Sim, essa é uma boa possibilidade. Mas penso, também, em cursos internos de aperfeiçoamento e de fortalecimento. Temos um curso pró-gestão, onde capacitamos mais de 10 mil gestores de escolas municipais. Abrimos um edital esse ano e já tivemos mais de 6 mil gestores inscritos nesse curso para qualificar diretores.
Paulo Souto – Qualquer processo que melhore a formação de diretores é de suma importância. Criar cursos universitários para formação de diretores de escola é uma boa ideia, mas considero que a prioridade seria relacionada à formação dos professores, acompanhado de cursos qualificação e melhoria da formação.
O senhor se compromete a não fazer indicações políticas para o cargo de diretores de escola? Como eles serão selecionados?
Pergunta elaborada por: Gustavo Ioschpe, economista da G7 Investimentos, especialista em Educação
Jaques Wagner – Instituímos a eleição pós-qualificação da diretoria das escolas. O colegiado é composto por funcionários, professores, alunos e pais de alunos. Mas os candidatos têm de, depois de um curso específico sobre gestão de escolas, apresentar um trabalho dizendo quais seriam seus planos na direção daquela escola, perante uma banca. Somente aqueles que obtêm notas mínimas permitidas podem se candidatar e, dentre esses, aquele que for o mais votado passa a ser o diretor. Essa experiência foi extremamente válida para “despartidarizar” as indicações.
Paulo Souto – Desde as minhas gestões anteriores, as indicações para os diretores das escolas se davam exclusivamente para professores que se submetessem a um processo de certificação e que fossem aprovados. Esse foi o critério que nós adotamos anteriormente e que vamos adotar na nossa próxima gestão.
A maioria dos estudos empíricos demonstra não haver correlação entre gastos em Educação/salário de professores e aprendizado dos alunos. O senhor aceita este achado ou acredita que devemos investir mais para obter melhor qualidade de Educação?
Pergunta elaborada por: Gustavo Ioschpe, economista da G7 Investimentos, especialista em Educação
Jaques Wagner – O salário sempre será uma parte de vital importância, porque é do ser humano buscar cada vez melhores condições de vida. Não adianta contar somente com o altruísmo que é próprio de alguns, mas não é generalizado. Temos de melhorar sempre os salários.
Paulo Souto – Se é verdade que não existe essa correlação, também é verdade que os salários ainda estão baixos. Proponho, então, estabelecer uma meta para aumentar essa remuneração, de forma não descriminada, e sim com critérios relacionados à melhoria do desempenho das escolas.
Quais políticas do governo atual na área da Educação serão mantidas? Quais serão revistas ou aprimoradas (e de que maneira) e quais, eventualmente serão abandonadas?
Pergunta elaborada por: Ana Lúcia Lima, diretora-executiva do Instituto Paulo Montenegro
Jaques Wagner – Somos um governo que está apenas começando. Porque tivemos apenas quatro anos e porque substituímos uma visão de governo totalmente antagônica à nossa. A maioria dos programas será mantida, otimizada, acelerada e aprofundada. Programas como o TOPA, o ensino profissionalizante, os centros juvenis, a formação de professores, o ensino com intermediação à distância, o Leitura para Todos, a qualificação das escolas e a eleição direta de professores irão continuar. Iremos ampliar a maioria desses programas com um foco na qualidade. Nós temos de ampliar muito a escola em tempo integral, onde ainda somos muito carentes.
Paulo Souto – É difícil falar das políticas educacionais do atual governo, pois ele nunca deixou claro quais eram suas prioridades na área. Eu já falei sobre o “Brasil Alfabetizado”, que tem de continuar. Esse programa deve ter metas qualitativas, e não apenas quantitativas. Não basta dizer que alfabetizou não sei quantos mil e, no fim, os resultados serem muito deficientes. Essa é uma política que deve ser claramente aprimorada desse ponto de vista. Houve um retrocesso na questão da qualificação dos professores. É de suma importância a retomada de políticas que garantam esse processo. Ficaram três anos sem fazer a certificação individual dos professores e isso impediu que eles avançassem em sua qualificação.
Qual o papel que o candidato vê para a participação da sociedade civil e em especial para o investimento social privado no apoio à Educação pública?
Pergunta elabora por: Ana Lúcia Lima, diretora-executiva do Instituto Paulo Montenegro
Jaques Wagner – Os investimentos sociais são fundamentais e sempre são bem-vindos. Porém, são necessárias medidas que atinjam parcelas significativas do todo, e não apenas alguns setores isolados ou apenas um foco de excelência. Mas gostaria de deixar claro que sou completamente aberto a interações e ações sociais privadas exitosas.
Paulo Souto – É de suma importância que a sociedade civil esteja presente e participe intensamente no papel do controle social das escolas. É papel do Estado estimular o investimento social privado no apoio à Educação pública. Porém, de maneira que esses investimentos não aconteçam de forma isolada, com cada empresa fazendo um pequeno projeto sem abrangência quantitativa expressiva. O que tem de ser estimulado é a formação de consócios de empresas dispostas a fazer investimentos nessa área com maior expressão quantitativa e que o Estado tenha co-participação. Essas parcerias são também muito importantes no ensino técnico, com grandes empresas investindo e preparando seus futuros funcionários.
Que ações são planejadas para estimular o compromisso da família no acompanhamento da vida escolar do aluno/seu filho?
Pergunta elaborada por: Guilherme Weege, empresário, diretor da Malwee
Jaques Wagner – O que melhor demonstra nossa preocupação com o acompanhamento dos pais no andamento da escola foi o processo da eleição direta. A comunidade deve tomar essa responsabilidade para si, fazendo-se parte no duplo sentido da cobrança e responsabilização por ela. Temos um projeto presente em 300 escolas que incentiva essa participação, assim como a revitalização do ambiente das escolas e a mobilização da comunidade.
Paulo Souto – Uma ação importante seria vincular todos os programas sociais implementados nos três níveis de governo ao compromisso da família no acompanhamento na vida escolar.
Que ações serão organizadas para implementar as escolas em tempo integral? Há interesse em ampliar a quantidade das unidades com essa modalidade de educação?
Pergunta elaborada por: Guilherme Weege, empresário, diretor da Malwee
Jaques Wagner – Sem dúvida alguma. Todos desejam ter a Educação em tempo integral e somos ainda muito carentes nesse ponto. A escola em tempo integral é importante para dar uma formação mais completa ao aluno, através da arte, do esporte, da cultura etc.
Paulo Souto – É claro que há o interesse de ampliar as unidades em tempo integral, mas dentro de um conceito em que muitas das atividades complementares não precisem, necessariamente, ser relacionadas à estrutura física das escolas, porque há muitas escolas que não foram planejadas para isso. Uma das soluções para esse problema é a utilização de equipamentos comunitários existentes ou que possam ser construídos. Alguns centros seriam destinados a essas atividades complementares e poderiam atender a um determinado número de escolas de uma região. Essa é uma ação essencial para que se possa dar um mínimo de eficiência à Educação em tempo integral, sem perder de vista as ações complementares, principalmente naquelas disciplinas em que as deficiências são nitidamente maiores.
Qual é o projeto do senhor para a disciplina Educação Física Escolar?
Pergunta elaborada por: Jorge Steinhilber, mestre em motricidade humana, presidente do Confef (Conselho Federal de Educação Física)
Jaques Wagner – Temos investido muito na área de esporte no interior e na capital, multiplicando os números de piscinas e quadras no Estado. Temos atraído eventos esportivos, estamos nos preparando para a Copa do Mundo de 2014 e temos que aproveitar isso para motivar nossos jovens. É importante destacar o programa Segundo Tempo, que visa democratizar o acesso à prática esportiva nos estabelecimentos públicos de Educação. Estamos, também, fazendo pela primeira vez um ginásio de padrão internacional no bairro de Cajazeiras, um dos mais populosos da capital.
Paulo Souto – A escola é um caminho fundamental para a propagação e desenvolvimento do esporte entre os jovens. O governo fará investimentos no esporte de modo a possibilitar ao jovem de qualquer origem ou classe a prática esportiva saudável e orientada, tanto com fins de lazer e integração social, quanto para a formação de atletas competitivos, contribuindo, com isto, para a diminuição da violência e da criminalização dos jovens.
A maioria das unidades escolares não dispõe de local adequado para o desenvolvimento de atividades físicas e esportivas. Qual o projeto para corrigir essa distorção?
Pergunta elaborada por: Jorge Steinhilber, mestre em motricidade humana, presidente do CONFEF (Conselho Federal de Educação Física)
Jaques Wagner – Temos procurado, tanto no terceiro grau quanto nas escolas do governo, ampliar, principalmente no interior, o número de quadras cobertas e de piscinas.
Paulo Souto – Todas as escolas novas aqui na Bahia têm lugar adequado para o desenvolvimento dessas atividades físicas. Já para amenizar e solucionar o problema dos colégios mais antigos, que não dispõem dessa estrutura, proponho a construção de centros de lazer e esporte que poderão atender um conjunto de escolas naquela área. Não apenas nas atividades relacionadas à atividade física como, também, para atividades complementares, como o reforço escolar de certas disciplinas e atividades culturais e lazer.

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